03/05/2024

Como a Microsoft quase quebrou e voltou mais forte do que nunca?

Engenharia 3.0

Desde a criação do ENIAC (Eletronic Numerical Integrator Analyzer and Computer), durante a 2ª Guerra Mundial, até os dias atuais, testemunhamos uma evolução exponencial ao longo dos últimos 80 anos. Talvez os cientistas norte-americanos John Eckert e John Mauchly não tivessem ideia de que o investimento de meio bilhão de dólares seria um negócio escalável e que máquinas infinitamente mais potentes e substancialmente mais compactas, comparadas ao ENIAC, chegariam ao início do século XXI a um custo da ordem de 1 mil dólares e estariam presentes nas casas e em todo tipo de negócio da atividade humana.

É certo que Bill Gates e Steve Jobs contribuíram de forma significativa para isso. Suas histórias já são bem conhecidas e é desnecessário recontá-las aqui. Entretanto, é fundamental citá-los, uma vez que suas ações, esforços e visão possibilitaram a exploração das potencialidades e aplicações dos atuais PC’s (Personal Computers) utilizados em nossas casas e em nossos trabalhos. Não há quem não conheça o sistema operacional Windows, tampouco o Microsoft Office.

Nos anos de 1980 a popularização e produção em massa do PC’s fez da Microsoft uma das maiores empresas do mundo, dada a sua influência na sociedade e nas relações humanas. Tal acontecimento ocorreu pela ampla utilização das soluções no cotidiano de todas as empresas e de todos os indivíduos comuns. Entretanto, tal hegemonia muda por volta dos anos 2000, a Apple desponta com soluções bem atraentes e desejadas pelos consumidores em geral: o MacBook, que se tornou o favorito dos mais jovens; o iPod, que revolucionou a maneira como ouvimos música; e os iPhones, que surgiram com desempenho diferenciado e um certo "status". Foi nesse momento que o iOS começou a prosperar.

Simultaneamente, uma startup do Vale do Silício chamada Google estava ascendendo e se tornaria o principal portal da internet. Compondo o cenário de pesadelo dos acionistas da Microsoft, o Google tornara-se o portal dominante da Internet e as novatas Amazon e Facebook eram mais desejadas pelos jovens do que a empresa de Bill Gates e Paul Allen. Nesse contexto, ser acionista da Microsoft era bem incômodo e desconfortável.

Ou seja: a hegemonia e domínio da Microsoft como a maior empresa do setor estavam ameaçados. Fato corroborado pelo êxodo de seus profissionais num movimento migratório para a concorrência e sem atratividade para o público jovem/recém-formado.

A pergunta que pairava na mente dos acionistas e executivos da Microsoft era: ela se tornaria irrelevante a longo prazo?

Hoje, ao examinar os dados financeiros da Microsoft divulgados em janeiro de 2024, a companhia apresentou seu quinto trimestre de receita recorde, da ordem de 60 bilhões de dólares em vendas e seu valor de mercado ultrapassou a casa dos US$ 3 trilhões!

E qual foi a “mágica”?

Inteligência Artificial. Embora não tenha percebido/acompanhado a revolução dos smartphones, a Microsoft percebeu a onda da IA e agiu. Em 2019, a empresa investiu US$ 1 bilhão numa startup sem fins lucrativos dedicada à invenção de uma IA de nível humano, o OpenAI. Quando esta lançou o ChatGPT, enquanto as concorrentes estavam “boiando”, a Microsoft estava na “crista da onda”, muito mais bem posicionada para aproveitar todo entusiasmo observado na atualidade. Rapidamente, decidiu investir mais alguns bilhões na OpenAI em troca do direito de poder incorporar aos seus sistemas operacionais e softwares soluções baseadas em IA.

Satya Nadella, que assumiu a cadeira de CEO da Microsoft em 2014, não marcou somente o “golaço” de investir na OpenAI em 2019. Foi necessário antes reajustar a rota e realinhar os objetivos. Por exemplo, cessar os investimentos nas soluções voltadas para o Windows Phone, que concorria com o iOS da Apple e o Android da Google. Ao invés de concorrer, uniu-se a elas. As soluções do Microsoft Office tornaram-se acessíveis a essas plataformas.

Na sequência, investiu também no próximo objetivo da vez: a computação em nuvem. Hoje é a segunda maior do mundo e é de onde vem a maior parte de sua receita, perdendo apenas para Amazon. Aquisições importantes aconteceram também, como a plataforma de codificação GitHub e a rede social coorporativa LinkedIn.

Outro ponto importante a se considerar: a Microsoft por ter lidado com diversas questões de ordem jurídica ao longo de sua existência apresenta certa experiência nesse campo. Ao contrário de suas concorrentes - Google, Meta, Amazon e Apple - que estão submetidas a repetidas investigações governamentais, multas multibilionárias e escrutínio regulatório. Curiosamente, a Microsoft tem passado ilesa por questões dessa natureza, o que por si só evita gastos de energia nesse interim.

Há uma década, os acionistas da Microsoft podiam estar inseguros sobre o futuro da empresa, mas hoje a situação é drasticamente diferente, com a empresa demonstrando toda a sua força no mundo dos negócios.

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Cristiano Silva | OEC IN