Catedrais Subterrâneas de Tóquio previnem enchentes e são exemplos de excelência na engenharia

Por sua localização e geologia, a cidade de Tóquio, no Japão, frequentemente enfrenta problemas com inundações por transbordamento de rios após fortes chuvas e tufões. Diante disso, o governo japonês foi obrigado a tomar medidas radicais para minimizar o problema, a exemplo da construção de um complexo sistema subterrâneo, apelidado de “Underground Temple” ou Catedrais Subterrâneas.
A capital japonesa é atravessada por cinco grandes rios, além de outros menores. O fato de ser um terreno praticamente plano acaba agravando a situação, fazendo com que as águas atinjam facilmente zonas altamente povoadas. O canal subterrâneo de escoamento é visto como um dos feitos mais impressionantes da capital e tornou-se uma improvável atração turística, como mostrou reportagem produzida pela CNN Portugal. Clique aqui para ler a reportagem.
A diminuição do impacto das águas tem funcionado mesmo diante das alterações climáticas que se agravam cada vez mais e se tornam mais frequentes, colocando o projeto à prova e fazendo com que seja um trabalho que nunca estará 100% concluído, já que melhorias constantes são necessárias.
Na estrutura, há cinco tanques cilíndricos gigantescos colocados em pontos críticos do sistema fluvial da região. O maior tem cerca de 32 metros de diâmetro e 71 metros de profundidade, o suficiente para acomodar a Estátua da Liberdade. O sistema todo tem mais de 50 km de extensão. O projeto foi aprovado em 1983, mas só entrou em funcionamento em junho de 2006. O investimento feito pelo governo é estimado em cerca de 2 bilhões de euros.
As “Catedrais Subterrâneas” têm um papel muito importante para a defesa da cidade. A estrutura recebeu esse nome devido ao seu teto alto suportado por 59 colunas de 500 toneladas, cada, tornando-a semelhante a uma catedral. O espaço tem 177 metros de comprimento, 78 metros de largura e 18 metros de altura. Na ocorrência de tufões ou chuvas fortes inesperadas, conforme o aumento do nível dos rios, a água transborda para os locais de recolha e segue para os tanques. Durante as enchentes a catedral é inundada e ajusta a pressão da água, deixando seu fluxo mais controlado, lançando-a no rio Edogawa, que, devido ao seu tamanho, tem condições de suportar maior volume, diferente de outros rios menores. Antes de ir para o rio, a água é bombeada por bombas de drenagem que puxam 200 toneladas de água por segundo. Para se ter uma ideia da dimensão, essas bombas poderiam esvaziar facilmente uma piscina olímpica em 2 segundos.
O projeto evitou uma perda de quase 200 milhões de euros para a capital e deve servir de inspiração para todo mundo. Seguindo esse exemplo de Tóquio, cidades como Londres já pensam em soluções semelhantes, já que boa parte de cidade é cortada pelo rio Tâmisa e inundações ocorrem na cidade de tempos em tempos.
Aqui no Brasil, a catástrofe ocorrida no Rio Grande do Sul, de abril a maio de 2024, ligou um alerta nas autoridades sobre a necessidade de ampliar o monitoramento e criar sistemas de defesa contra inundações. Se o sistema japonês fosse realidade no estado, teria sido possível drenar 30 milhões de litros do lago Guaíba em 2 minutos e meio, salvando vidas e patrimônio. Esta realidade ainda parece distante da brasileira, mas os bons exemplos existem e precisam ser seguidos e ampliados.
Para saber mais sobre este sistema de proteção, assista a reportagem da CNN Portugal: clique aqui.
Créditos de imagem: Foto: CHARLY TRIBALLEAU / AFP – O Globo (https://oglobo.globo.com/fotogalerias/conheca-gigantesco-reservatorio-subterraneo-construido-para-proteger-toquio-de-inundacoes-24688498)