27/02/2025

IA – Será Mesmo Que Devemos nos Preocupar?

Engenharia 3.0

Objetivamente respondendo, sim.

Devemos nos preocupar principalmente em como usar a IA – Inteligência Artificial – a nosso favor. E rápido. Os impactos estão em curso e tendem a aumentar.

Há os que enxergam um futuro tenebroso e sombrio, similar ao apresentado no filme The Matrix, em que as “máquinas” subjugam e dominam os humanos. Stephen Hawking alertou que “a criação bem-sucedida de inteligência artificial seria o maior evento na história da humanidade. Infelizmente, poderia também ser o último, a menos que aprendamos a evitar os riscos”.

Por outro lado, uma visão menos apocalíptica e mais pragmática nos leva a enxergar a IA como uma ferramenta para amplificar nossas capacidades, tornando-nos mais eficientes na resolução de problemas complexos. Longe de substituir a inteligência humana, a IA pode liberar tempo e recursos para que nos concentremos no que realmente importa: criatividade, estratégia e inovação.

Deixemos as previsões de fim de mundo de lado e procuremos entender como podemos incorporar a IA ao nosso cotidiano.

Não há área do conhecimento humano que não esteja sendo impactada pela IA. Aplicações como ChatGPT, DeepSeek, Gemini e Copilot já automatizam tarefas repetitivas e melhoram a produtividade. O mundo está digitalizado e conectado, e a inteligência artificial acelera essa transformação.

Lutar contra essa realidade é uma batalha perdida. Não tem mais volta.

Então, o que fazer? Lamentar que a evolução nos pegou de “calças curtas” ou entender como trabalhar simbioticamente com os recursos de que dispomos?

Antes, façamos uma pausa para uma breve reflexão. É requisito a prática da autorresponsabilidade, em que cada indivíduo deve (ou deveria) conhecer o que há disponível em termos de IA voltada ao seu ramo de atuação e entender como aplicá-la no seu dia a dia. Porque certamente há algo na sua rotina pessoal ou de trabalho que pode ser melhorado com o uso da IA.

Uma postura que pode ser assumida e trazer bons direcionamentos é a seguinte: em todas as suas atividades do seu dia a dia, pergunte sempre: há alguma forma que a IA possa me ajudar a fazer isso de forma mais ágil? E use a IA, porque só assim será possível entender seu potencial.

Na engenharia, essa revolução já acontece.

Um exemplo claro está na metodologia BIM (Building Information Modeling). O conceito já é bem conhecido no setor AECO (Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação), mas, segundo pesquisa do BIM Forum Brasil, apenas 1/5 dos escritórios de projeto adotam o BIM como metodologia básica.

A relação entre BIM e IA é direta. A IA se alimenta de dados e, no contexto da modelagem, esse insumo vem justamente do “I” da sigla BIM. Quanto melhor estruturadas e qualificadas as informações, maior o valor que a IA pode agregar. A norma ISO 19650 define boas práticas para garantir um BIM bem-feito, alinhado a fluxos eficientes e à filosofia Lean Construction. Com essa base, a IA pode simular cenários com acurácia que seria humanamente impossível.

No planejamento, a capacidade de simular cenários é um diferencial competitivo. Construir qualquer coisa envolve múltiplas variáveis interdependentes: número de equipes, períodos de trabalho, disponibilidade de equipamentos e materiais, feriados, possibilidade de greves e impactos no cronograma. A IA permite testar rapidamente diferentes combinações e encontrar soluções otimizadas.

Outro avanço significativo no uso da IA na engenharia é sua integração à modelagem paramétrica. Os provedores de ferramentas para esse fim estão incorporando recursos de IA e aprendizado de máquina (ML – Machine Learning) para otimizar fluxos de trabalho e introduzir funcionalidades de design autogerado. Tudo isso irá aumentar a eficiência no design e layout de projetos de engenharia complexos. Da mesma forma que no Planejamento, com a IA, o sistema pode avaliar automaticamente inúmeras opções de layout, levando em conta fatores como acessibilidade, manutenção, custos e segurança. Isso irá reduzir o tempo de modelagem e possibilitar um projeto mais eficiente desde o início.

A tendência é que, cada vez mais, soluções baseadas em IA sejam incorporadas ao design paramétrico, permitindo que engenheiros se concentrem mais na concepção estratégica do projeto, enquanto o software lida com otimizações de detalhamento.

Outra aplicação prática está na geração de documentos técnicos. Com uma base de dados bem estruturada, é possível produzir memoriais descritivos, especificações técnicas e critérios de projeto de forma automatizada, reduzindo o tempo de desenvolvimento e o risco de erros.

Nos estudos preliminares, a IA pode analisar rapidamente grandes volumes de documentos – contratos, propostas, escopos e riscos – identificando padrões e relações que levariam semanas para serem extraídas manualmente. Isso reduz incertezas e melhora a tomada de decisão.

A IA também transforma a execução de projetos. Gêmeos Digitais com usos voltados à etapa de construção permitem monitoramento em tempo real, cruzando imagens captadas em campo com modelos digitais para avaliar a evolução físico-financeira do empreendimento. Sistemas de visão computacional já identificam desvios, controlam fluxos e acessos e verificam o uso adequado de EPIs.

Empresas que adotam essas soluções antes da concorrência já colhem os benefícios. Os earlier adopters estão mais competitivos, pois otimizam processos, reduzem desperdícios e tomam decisões embasadas em dados.

A mudança já está em curso, e sua velocidade só aumenta. Todas as áreas do conhecimento vivem ou viverão as glórias e os desafios dessa revolução.

E você, como tem usado a IA no seu dia a dia?

 


Autores:

Cristiano Oliveira da Silva

Ibirajara Augusto Lopes Braúna