O Plástico tornando a construção mais sustentável
Em artigo recente publicado no jornal The New York Times (e reproduzido pelo Estado de São Paulo (Ref. [1]), o jornalista e escritor americano A. J. Jacobs impôs-se a si mesmo o desafio de viver um dia sem plástico. “Na manhã do dia em que decidi ficar sem usar produtos de plástico - ou mesmo tocar em qualquer plástico - abri os olhos e coloquei os pés descalços no tapete. Que é feito de nylon, um tipo de plástico. Estava há cerca de 10 segundos em meu experimento e já havia cometido uma violação (...)”. Assim começa o seu divertido e perturbador artigo, cujo título é “Tentando viver um dia sem plástico em um mundo praticamente dominado por ele”.
Não é necessário viver a experiência para saber que esta não se trata de uma tarefa simples. O plástico tem uma grande relevância hoje no mundo, constituindo-se ao mesmo tempo em um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade e uma das grandes soluções da vida moderna. Considerado por muitos como uma espécie de “malvado favorito”, sua versatilidade, durabilidade e disponibilidade é tamanha que este material se incorporou à nossa rotina, trazendo soluções fáceis para maioria das pequenas dificuldades que encontramos no dia a dia, no mais das vezes na forma de produtos descartáveis.
Esse processo gera naturalmente um descarte enorme de material plástico que, sendo extremamente durável, se acumula no meio ambiente sem se decompor por séculos. Os efeitos na natureza são fáceis de se perceber e não é necessário um conhecimento científico para constatar a necessidade urgente de uma solução viável economicamente para este grande problema.
Como toda a atividade econômica, a construção civil traz, por sua vez, impactos significativos na natureza. Isto em parte advém do uso de insumos e suprimentos que geram muitos resíduos e grandes emissões de gases que causam o “efeito estufa” (ou “pegada de carbono”) durante a sua produção, transporte e utilização.
Na tentativa de tornar a atividade de construção mais sustentável e, ao mesmo tempo, contribuir na busca de soluções economicamente viáveis para a redução de resíduos plásticos por meio de reciclagem - e assim combater os dois graves problemas referenciados acima – há algumas soluções interessantes e promissoras surgindo no mercado para promover o emprego do plástico nas obras, em substituição a outros materiais. Uma destas aplicações é a substituição das fôrmas de madeira por fôrmas plásticas reutilizáveis, um recurso ainda pouco explorado no Brasil. Empresas como a ATEX (Ref. [2]) ou a chinesa Geoplast Building (Ref. [3]), por exemplo, disponibilizam soluções de fôrmas para concreto produzidas à base de plástico - Figura 1. Eventualmente, para viabilizar o sistema, são necessários alguns elementos metálicos de reforço, melhorando distribuição da carga após a concretagem do elemento. Note-se que o material empregado na estrutura da fôrma é essencialmente constituído de plástico ABS.
As fôrmas plásticas são versáteis, modulares e fáceis de montar, pois utilizam peças com encaixes e roscas, eliminando-se a necessidade do uso de parafusos. Estes conjuntos podem também ser reutilizados várias vezes sem danos recorrentes, substituindo com vantagens as fôrmas de madeira, menos duráveis.
A mão de obra empregada para a montagem das fôrmas é essencialmente a mesma utilizada na produção e montagem das fôrmas usuais, de modo que os empregos e a experiência do time encarregado são preservados e a necessidade de treinamento para os novos processos é minimizada.
Resinas plásticas recicladas podem ainda substituir a madeira em outras tantas atividades corriqueiras nas obras com vantagem, como sinalização provisória, dutos, telhas, painéis, etc.
Figura 1 e 2. Fôrmas plásticas reutilizáveis para estruturas de concreto moldadas “in loco”.
Para desfrutar ao máximo de todas as características e benefícios que os plásticos nos proporcionam e minimizar os problemas que este uso acarreta, é muito importante avaliar seus impactos. Para tanto, é necessário considerar o ciclo completo do emprego do material, de modo a minimizar problemas ambientais que ocorrem após a desmobilização e descarte. De fato, soluções que levam à utilização do produto por longos períodos são mais favoráveis para manter os plásticos fora dos aterros. Os benefícios para a sustentabilidade são ainda potencializados se o material empregado vem de fonte reciclável.
Recorrendo-se a soluções similares aos exemplos aqui mencionados para a utilização de plástico reciclado, empresas da área de construção civil podem contribuir muito na diminuição dos impactos deletérios na natureza decorrentes do emprego deste material em larga escala.
Experiências como essas são promissoras e renovam a esperança de viabilizar um mundo mais sustentável, mesmo que isto nos torne ainda mais dependentes do plástico, expandindo o consumo deste material para novos mercados (no presente caso, a Construção Civil). Isto certamente tornaria o experimento vivido pelo escritor A. J. Jacobs, referenciado no início deste artigo, ainda mais difícil de se concretizar. Desta vez, porém, por uma boa razão. O ecossistema agradece!
Referências no texto:
[1] www.estadao.com.br/lifestyle/um-dia-sem-plastico;
[2] https://atex.com.br/pt/produtos-para-construcao-civil/;
[3] https://lianggongform.en.made-in-china.com;
[4] https://www.sciencedirect.com/science/article/.
Autores: Francisco Peltier, Daniel Lepikson, Rafael Malfato
*foto de capa: Freepik